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Tropical Summit: Foreseeing Answers to Global Challenges

Decorreu entre os dias 4 e 8 de novembro, em Lisboa, a primeira Tropical Summit – Foreseeing Answers to Global Challenges.

Esta conferência, promovida pelo Colégio Tropical da Universidade de Lisboa e o Fórum para a Investigação Agrícola em África (FARA), teve como  objetivos promover a transferência de conhecimento; estimular a colaboração multidisciplinar e o envolvimento das partes interessadas e contribuir para a cocriação de projetos inovadores. Líderes de todo o mundo abordaram, em Lisboa, os desafios tropicais mais prementes e relacionados com a Agenda 2030.

A Cimeira procurou também avaliar criticamente a consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) –  o que pode ser realisticamente alcançado, com quem e com que recursos.

O programa contou com sessões plenárias e sessões paralelas onde peritos nas várias áreas tiveram oportunidade de apresentar projetos e debater ideias.

Na sessão de alto nível do primeiro dia de trabalhos o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, lembrou que esta Cimeira é uma oportunidade para a aprendizagem interseccional, já que o planeamento e elaboração de políticas devem ter em conta a diversidade e um leque muito alargado de dimensões e os peritos devem, por isso, ser ouvidos.

Maria da Graça Carvalho, Ministra do Ambiente e Energia, lembrou a importância de alguns instrumentos de cooperação, como o acordo da conversão da dívida em investimento climático, assinado pelos Governos de Portugal e Cabo Verde.

Já Jeffrey Sachs, Presidente da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável, frisou que “sem paz não há desenvolvimento” e lembrou a importância dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) 16 e 17 que se referem a paz e parcerias, respetivamente. Reiterou que o mundo não está no bom caminho para os alcançar e que o desenvolvimento económico é o modelo sustentável do bem-estar. Para atingir esse objetivo é necessário ter uma administração pública bem preparada, para o que releva o investimento em educação e saúde.

A Ministra das Pescas e dos Recursos Marítimos de Angola, Carmen Neto, também marcou presença neste painel de alto nível e na sua intervenção destacou a importância da governança e do capital humano. Na opinião da representante do Governo de Angola, só a boa governança permite a troca de boas-práticas e a cooperação Norte – Sul, essencial para superar os mais variados desafios. Neste contexto, e tal como outros oradores, referiu-se ao investimento em educação e formação como essenciais para adequar projetos às reais necessidades.

O espírito de cooperação para o desenvolvimento enquanto mote da Cimeira foi também assinalado por Florbela Paraíba, Presidente do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., que defendeu o alargamento do espectro do diálogo a todos os atores e atividades e não apenas às entidades governamentais. Nesse sentido, o Camões aposta também na cooperação nas áreas do desenvolvimento agrícola e da saúde, na ótica dos ODS 2 e 3 – erradicar a fome e saúde de qualidade, respetivamente.

Referência aos ODS, designadamente ao ODS 17, foi também feita por Ravi Khetarpal, Secretário Executivo do APAARI (Asia-Pacific Association of Agricultural Research Institutions) que salientou a importância das parcerias no desenvolvimento. Considera, a este respeito, que é necessária uma mudança de mentalidades e uma muito maior aposta no investimento local. Só assim se conseguirá a necessária apropriação dos projetos por parte dos países.

A sessão de alto nível contou ainda com uma intervenção de Ubiraci Pataxó que trouxe a sua visão humanista da questão da sustentabilidade, lembrando que o diálogo é essencial para um mundo melhor e que é aí que deve ser concentrado o investimento.

Nota ainda para a sessão plenária dedicada ao Crescimento Humano (Human Growth), na qual os participantes tiveram a oportunidade de ouvir Arjun Appadurai, Professor Emérito de Media Cultura e Comunicação da Universidade de Nova Iorque e Francesco Bilari, da Universidade Bocconi.

Appadurai lembrou, por um lado, que falar de cultura não é só falar do passado, mas também do futuro e, por outro lado, que desenvolvimento é, também, bem-estar. Considera, por isso, que, à semelhança do que já acontece com outras áreas, é necessário encontrar formas de o medir. Os conceitos de “qualidade de vida” e “padrões de vida” devem existir em simultâneo e é necessário encontrar formas de os medir. Há já alguns estudos que medem, por exemplo, os níveis de felicidade nos países, mas considera que vale a pena um maior investimento nesta área.

Francesco Bilari centrou-se nas questões relacionadas com a demografia. Entre outras dimensões, lembrou a importância da educação e das migrações como elementos com capacidade para mudarem as características das populações. No que se refere à educação, considera que, se o século XX foi o século da escola para todos, o século XXI é e deverá ser o século dos estudos pós-secundários, em, o século da universidade. No espírito da Agenda 2030 lembra que é preciso unir esforços para não deixar ninguém para trás. No que se refere às migrações, lembrou que, em algumas regiões do globo, os movimentos migratórios têm sido de tal forma intensos que promovem a alteração das respetivas populações. A este respeito chamou a atenção para a inclusão, igualmente presente nos referidos valores da Agenda 2030.

Este evento pioneiro, que contou com o Alto Patrocínio de Sua Excelência O Presidente da República Portuguesa e com o apoio do Governo português, pretende instituir-se com um carater permanente, bianual, e assume-se como um fórum de atores dedicado à urgência do cumprimento da Agenda 2030 e do desenvolvimento sustentável. A próxima edição será em 2026, no continente africano.

As conclusões da Cimeira serão ainda divulgadas pelo Colégio Tropical. Fica, no entanto, desde já, a nota de que a Agenda 2030 é um plano de ação com uma abrangência multidimensional de carater global, cujo âmbito vai muito além da dimensão nacional. Os ODS são um dos muitos instrumentos que a Agenda tem ao seu dispor para guiar o caminho para o desenvolvimento sustentável, mas a estratégia de ação não se pode esgotar naqueles 17 objetivos. É necessária uma visão integrada capaz de encontrar elos de ligação e sinergias entre todas as dimensões da sustentabilidade.